terça-feira, 19 de julho de 2011

ALLENDE COMETEU SUICÍDIO, CONCLUI INVESTIGAÇÃO CHILENA

Última foto de Salvador Allende. Imagem de Orlando Lagos.
Depois de dois meses de investigação, foi divulgado hoje (19) um relatório de 500 páginas que conclui que o ex-presidente chileno Salvador Allende cometeu suicídio, durante o golpe militar de 11 de setembro de 1973.A filha do ex-presidente e senadora do Partido Socialista, Isabel Allende, disse que sentia “uma grande tranquilidade” ao confirmar o que já sabia: que seu pai “tomou a decisão de acabar com sua vida, antes de ser humilhado ou viver qualquer outra situação”. 

Em maio passado, o corpo de Allende foi exumado. A suspeita era de que ele tinha sido assassinado no dia do golpe, quando aviões bombardearam o palácio presidencial La Moneda. Um dos primeiros a levantar suspeitas sobre o suicídio de Allende foi o poeta chileno e Prêmio Nobel, Pablo Neruda, que morreu 12 dias depois de Allende, de uma parada cardíaca, provocada por um câncer de próstata. Em suas memórias, o poeta escreveu que Allende provavelmente tinha sido metralhado pelas tropas que tomaram de assalto o palácio presidencial e que o suicídio tinha sido inventado para encobrir um assassinato. 

A morte de Neruda, como a de Allende, começou a ser investigada este ano. Seu assistente pessoal, Miguel Araya, disse que o escritor tinha recebido uma injeção letal no hospital onde teria morrido de uma parada cardíaca. Mas a Fundação Pablo Neruda não acredita na versão de Araya. A família de Allende tampouco acreditava que o ex-presidente tivesse sido assassinado. Seu corpo foi encontrado em La Moneda e, na época, a informação oficial foi que o ex-presidente cometeu suicídio com um rifle que recebeu de presente de seu amigo, o líder cubano Fidel Castro. O médico de Allende confirmou essa informação, mas como nunca houve uma investigação formal, os rumores não pararam. 

O caso de Allende é um dos 726 crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura que a Justiça chilena esta investigando. Foram 17 anos de ditadura no país. Mas segundo Gabriela Zuniga, da Agrupação de Familiares de Detidos e Desaparecidos, falta ainda muito por fazer. “Temos informações gerais, mas não temos informação individual sobre as vítimas. Sabemos que houve 1.190 detidos e desaparecidos e 2,5 mil executados durante a ditadura. E agora sabemos que Allende se suicidou, mas não sabemos os nomes dos pilotos que bombardearam o palácio La Moneda, nem os nomes daqueles que torturaram e mataram durante a ditadura”, disse Zuniga, em entrevista a Agência Brasil

“Para que um país cure suas feridas é preciso saber o que aconteceu e que isso foi feito por chilenos contra chilenos. Se sabemos a verdade e nos horrorizamos com ela, aí sim podemos construir um futuro melhor”. No próximo mês, disse Zuniga, serão divulgados os resultados de uma investigação para saber se o número de mortos e desaparecidos foi maior do que se sabe. No Chile, o Estado paga o equivalente a US$ 800 mensais a mães ou as esposas das vítimas da ditadura.

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